Zé Teodoro: “Caí no time certo e na hora certa”

Treinador coral lembrou a difícil caminhada desta temporada e já avisou: quer mais para os próximos anos

Ele está de férias, mas deu uma passada rápida no Recife para ajustar os últimos detalhes de sua renovação com Santa Cruz para 2012. Tudo porque o desafio de reerguer o clube continua.

Essa perspectiva está facilmente ligada a Zé Teodoro, treinador que deu novo ânimo à torcida do Mais Querido ao colocar o Santa novamente nos holofotes - de uma forma positiva. Nesta entrevista ao GLOBOESPORTE.COM/PE, o comandante falou sobre a decisão de vir para o clube há um ano, as dificuldades e, principalmente, a emoção de ter conquistado o principal objetivo de 2011: tirar o clube pernambucano do fundo do poço da Série D.

De acordo com Zé Teodoro, a iniciativa de vir para o Santa Cruz partiu de conversas entre o treinador e Sandro Barbosa, ex-jogador do clube e hoje auxiliar técnico coral. Entretanto, os contatos iniciais para acertar com o Tricolor já indicavam que o ambiente a ser encontrado no Recife não iria ser dos mais fáceis

- Quando o Sandro me ligou convidando para vir, perguntei o que tinha. Ele me disse que nada!, Que nós tínhamos de começar do zero e que precisaríamos reerguer o clube. Vim pela confiança que tinha nele e me dispus a ajudar – explicou o treinador, relatando a situação que encontrou quando desembarcou no Arruda.

 - Cheguei aqui e só encontrei a estrutura física. Os funcionários estavam desestimulados, inclusive me dizendo para eu sair, desistir. Mas minha vida é feita de desafios e decidi aceitar este. Tudo estava contra e todos diziam que não ia dar certo, mas me juntei com o Sandro e decidimos entrar para mudar

Cheguei aqui e só encontrei a estrutura física. Os funcionários estavam desestimulados, inclusive me dizendo para eu sair, desistir"

Zé Teodoro

Zé explicou que o fator motivacional para ele permanecer no Recife foi a vontade de dar alegria ao torcedor coral. Mais tarde, a força vinda das arquibancadas se transformou na principal arma do treinador para driblar os obstáculos.

- Uma coisa que marcou muito foi ver os torcedores cabisbaixos, sendo motivo de chacota. Pela minha condição humana e social isso mexeu comigo, com o Sandro e com os jogadores. Quando vi isso disse para mim mesmo: vou até o final, isso vai dar certo.

E deu. Mantendo o trabalho coerente e mesmo ciente das limitações do clube, Zé montou uma equipe competitiva e o resultado veio em dose dupla com o campeonato pernambucano e o acesso à Série C. Mas o treinador não se dá por satisfeito. Ele quer ver o Santa melhor ainda.

-Estamos preparados agora. Posso dizer que conheço bem o clube e a equipe. Hoje demos um salto com tudo o que foi feito, mas ainda tem mais saltos pela frente – enfatizou.

O treinador aproveitou para relembrar alguns fatos que aconteceram neste ano,desde a pré-temporada em Chã-grande, passando pelo título do Pernambucano, em cima do rival Sport, até culminar na campanha na Série D do Campeonato Brasileiro.

Adversidades

No início da temporada, Zé Teodoro tinha uma importante missão: montar uma equipe totalmente nova e trabalhar a confiança de seus jogadores. Isso, de acordo com o treinador, foi crescendo mediante às dificuldades que o grupo passava.

- A adversidade fez crescer. Quando estávamos em Chã Grande, na pré-temporada, vimos as dificuldades. Ali o grupo se fechou, uniu. Era um trabalho intenso, pois a maioria dos jogadores estava encostado e tínhamos que resgatar a condição física e psicológica de cada um. Depois que passamos a ter resultados, crescemos e foi dando otimismo. Deu segurança, confiança.

Título do Pernambucano

Depois de derrotar o Sport na final do Campeonato Pernambucano, Zé Teodoro comemorou, mas sabia que o principal objetivo ainda estava por vir. A série D era um fantasma na história do Santa e, segundo o treinador, isso mexia com a cabeça dos jogadores.

- A responsabilidade só aumentou após o título. Tínhamos a missão de devolver a alegria ao torcedor e de resgatar a condição financeira do clube. Com o Pernambucano ela ainda não estava cumprida. Foi uma etapa do trabalho muito importante porque deu confiança. Disse aos jogadores que íamos chegar, subir e tirar o time da Série D. Mas o maior patrimônio foi o torcedor, ele fez o time ser campeão e subir – reforçou o treinador.

Série D

As pedras no meio do caminho do Santa só aumentaram. Após o Pernambucano, veio a Série D e a dura realidade de campos precários, viagens desgastantes e pressão para subir a todo custo.

- Naquele primeiro jogo contra o Alecrim/RN tivemos muitas dificuldades. Mas a presença da torcida mexeu com nossos atletas. Ali foi o começo do acesso. Superamos cada barreira, cada situação. E o momento decisivo foi contra o Treze/PB, no primeiro jogo. Estávamos perdendo de 2x0 no primeiro tempo e, no intervalo, falei para os jogadores: era matar ou morrer. E nós conseguimos subir.

Coração Tricolor

Zé Teodoro teve uma passagem marcante como jogador do São Paulo/SP. Agora, virou ídolo de outro tricolor, o pernambucano. De acordo com o treinador, ele quer que esse vínculo com o Santa se estenda por bastante tempo.

- Estou vestindo mesmo a camisa. No São Paulo, em sete anos, conquistei cinco títulos e as cores me deram sucesso. Agora estou em outra missão, em outro vermelho, preto e branco. Quero ficar aqui por muito mais tempo. Sei que a cobrança é maior, mas sinto que tem muito para conquistar no futuro. Acho que não vou sair tão cedo daqui. Espero marchar junto com o Santa. Caí no time certo, na hora certa.

Expectativas

Passado o triunfo na temporada de 2011, Zé fez um balanço do que foram esses primeiros 12 meses à frente do Santa Cruz e deu a cartilha para o próximo ano.

- Não tínhamos nada e construímos tudo. Hoje somos campeões pernambucanos e temos o acesso. Foi uma vitória de todos, teve toda uma equipe por trás. Saímos do inferno para o purgatório da Série C, até porque no futebol brasileiro as pessoas visualizam somente as Séries A e B. Temos que estar nelas – enfatizou, afirmando que já sabe o caminho a ser traçado:

- Quando você trabalha com pessoas sérias, a tendência é não voltar atrás, é ir pra frente. O torcedor tem que ser presente em 2012 e ajudar a reerguer mais ainda. Vamos em busca da Série B e vou trabalhar para isso – encerrou o comandante.